19 de setembro de 2012

Anónimo

Diretor: Roland Emmerich
Escritor: John Orloff
Atores: Rhys Ifans, Vanessa Redgrave, Sebastian Armesto

Mais informação técnica no IMDb.

Opinião: Apesar de estar numa temporada shakesperiana, devo confessar que pouco ou nada sei sobre o tão afamado autor inglês. Mas se tal se devia ao meu pouco interesse até este ano, o certo é que mesmo o que se conhece é muito pouco, de tal forma que se coloca mesmo em causa a existência de um William Shakespeare ou que existindo tenha escrito as obras. É sobre esta teoria que se debruça o filme, apresentando um outro candidato a autor.

Abrindo com uma peça de teatro apresentada por um conceituado ator shakesperiano, Derek Jacobi (fez de Claúdio no “Hamlet” de Kenneth Branagh, por exemplo), um dos defensores da “Oxfordian theory of Shakespeare authorship”, rapidamente a ação passa do palco para o passado, ilustrando então a teoria de que Edward de Vere, conde de Oxford, seria o autor mas que, devido ao facto de ser nobre e de uma eventual carreira política, não poderia assinar as peças de teatro. Deste modo teria escolhido um outro autor, Ben Jonson, para as assinar mas um ator bêbado, de seu nome William Shakespeare, vendo a reticência de Jonson teria sido mais inteligente e reclamado para si a glória.

Em termos históricos não me pareceu muito incorreto, apesar de trocarem as datas de exibição das peças e deixarem a ideia de que algumas teriam sido escritas cerca de 30 ou 40 anos antes. A reconstrução de Londres é algo imponente, os teatros são magníficos e o interior dos palácios belíssimos. Os variados saltos temporais são algo confusos a início mas o que realmente sobressai são as atuações, nomeadamente de Rhys Ifans (prefiro vê-lo em filmes mais sérios, como este), Vanessa Redgrave e Joely Richardson, mãe e filha que interpretam a rainha Isabel I em diferentes épocas da sua vida (sim, só recentemente descobri o parentesco, como é que nunca vi as semelhanças?!).

Posso não concordar com a teoria mas não deixo de achar que é um bom filme, com um enredo digno de Shakespeare. Gostei de ver os variados excertos das suas obras representadas, como uma peça dentro da peça (o que o próprio autor faz, por exemplo, em Hamlet), nomeadamente Henry V (lágrimas!), e de ver referências como se alguns episódios na suposta vida de Edward de Vere o tivessem inspirado a escrever diversas cenas, como quando ele mata alguém que se encontrava atrás de um reposteiro e eu tive de me controlar para não gritar “Polónio! Referência a Hamlet! Eu percebi a referência!” (estes são agora denominados os meus “momentos Capitão América” :D ).

Gostei e aconselho. Apesar de questionar a autoria dos textos parece-me retratar muito bem a época e acaba por colocar questões em que jamais havia pensado antes. A início Derek Jacobi pergunta se podia alguém rodeado de analfabetos ser capaz de escrever tais obras, mas podia alguém de ascendência nobre ser capaz de tal análise da alma humana, de agradar com palavras a gregos e troianos? Como estudaria o Homem quem escreveu os textos? Observava? Viveu alguma das coisas que as peças retratam? Enfim, food for thought...

Veredito: Vale o dinheiro gasto. Como disse, posso não concordar com a teoria mas aconselho o filme. Dá gosto ver excelentes representações.

5 comentários:

Diana Marques disse...

Eu adorei este filme muito por culpa das excelentes performances dos vários actores. Achei que estavam todos tão bem!
Em relação à teoria deles, apesar de ser uma teoria, achei que estava bem construída, a história era muito boa.

Uma outra teoria é a de que vários alunos de Oxford (portanto, gente letrada) teriam escrito as peças, em conjunto, assinando como William Shakespeare, um nome fictício. O facto é que não há praticamente nada sobre ele, o que torna tudo um pouco mais obscuro e misterioso. E sim, no seu testamento, ele deixou uma cama à mulher... Doesn't make sense.

Eu, sinceramente, também acho que aquilo era demasiado para um homem só, naquele tempo. Mas acho que é coisa que nunca se virá a saber por completo :P

WhiteLady3 disse...

Eu acredito nessa teoria, de escreverem em conjunto. :D Acho que vários pontos de vista são mais congruentes com a multiplicidade de personagens das várias peças e o facto de agradarem a um tão grande número de pessoas. :D

NLivros disse...

Tenho lá esse filme para ver.
Em relação às teorias, embora não tenha lido muito sobre isso, mas penso que a obra criada em nome de Shakespeare podia ser perfeitamente criada por apenas um homem. Porque não?
A estrutura das obras é sempre semelhante e na História da humanidade existem génios literários que criaram várias grandes obras. Recordo-me, de repente, do nosso Camões e Eça. De Vitor Hugo, Dickens, Dostoievski, Leon Tolstoi ou Balzac. Podemos também falar dos génios que foram Mozart, Beethoven ou Bach.
Não me parece transcendente que Shakespeare tenha de facto existido e escrito mesmo as obras que lhe são atribuidas.

Diana Marques disse...

O que está em causa não é a genialidade nem a qualidade das obras. Mas nenhum desses autores que mencionaste produziu tanto no seu tempo de vida quanto Shakespeare, mesmo comparando com os seus contemporâneos como Christopher Marlowe e Ben Jonson: 154 sonetos e 36 peças escritas num espaço temporal de, mais ou menos, 24 anos. E estas peças não são, propriamente, coisas simples e descomplicadas... Há peças, inclusive, que se pensa terem sido escritas só parcialmente por Shakespeare.

Mas a verdade disto tudo só se descobriria se o próprio Master Shakespeare viesse cá à terra e nos contasse a vida dele :P

WhiteLady3 disse...

Sim, há bastantes dúvidas até sobre o porquê de ter deixado a família e supostamente ter voltado a Stratford no auge da sua carreira, se não estou em erro, que só o próprio poderia dar-nos alguma luz. :D Ainda propunha um tabuleiro ouija mas sou um pouco supersticiosa. :P

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